Mitigação de aflatoxina B1 em ração para peixe

Autor: Wesclen Vilar Nogueira (Currículo Lattes)

Resumo

Com a intensificação produtiva da piscicultura e com intuito de reduzir custos, a substituição da farinha de peixe por ingredientes de origem vegetal passou a ser realidade dentro das indústrias de ração. Porém, o uso de ingredientes de origem vegetal pode resultar na contaminação dos peixes por micotoxinas. Dentre as micotoxinas, a aflatoxina B1 (AFB1) apresenta elevada toxicidade, sendo classificada como carcinogênica para animais e humanos. A AFB1 é termoestável, podendo persistir no alimento ou ração após a industrialização. Por esse motivo, métodos biológicos, químicos e físicos passaram a ser estudados para eliminar ou mitigar a presença destes compostos. Dentre esses, o biológico empregando enzimas têm apresentado destaque para mitigação. Além disso as enzimas podem ser obtidas de produtos com baixo valor comercial (e.g., farelo de soja). Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a aplicação da peroxidase (PO) para mitigar AFB1 em ração para peixe. Inicialmente, realizou-se levantamento de ocorrência de micotoxinas em rações e calculou-se o risco de exposição para as ordens das principais espécies cultivadas mundialmente. A AFB1 apresentou elevada ocorrência nas rações, apresentando efeitos tóxicos em baixas concentrações para diferentes espécies quando comparada as demais micotoxinas. A estimativa de risco demonstrou que peixes nas fases de alevino e juvenil, para as diferentes ordens, estão expostos a concentrações mais elevadas de micotoxinas. A simulação in vitro da hidrólise digestiva de tilápia do Nilo demosntrou que a bioacessibilidade de AFB1 variou de 36 a 100% da quantidade inicial da amostra, sendo influenciada principalmente pelo tempo de digestão (de 36 após 3 h para 100% após 6 h) e a quantidade de substrato. A mitigação da AFB1 na etapa úmida do processo de produção de ração utilziando PO extraída de farelo de soja chegou a 91% quando as condições eram 0,035 U g-1, 32 °C, 6 h e 70% para atividade enzimática, temperatura, tempo e umidade, respectivamente. No entanto, a aplicação de PO pode ter efeitos colaterais indesejados nos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa e na bioacessibilidade digestiva dos polifenóis. Os efeitos da mitigação de AFB1 com PO extraída de farelo de soja foram avaliados em estudo in vivo. Para isso, 240 alevinos de tilápias (2,83 ± 0,16 g) foram divididos em 4 tratamentos e alimentados com suas respectivas rações: Controle, Hidrolisado (ração contendo apenas PO), Contaminado (ração contendo apenas 50 µg kg-1 de AFB1) e Mitigado (ração em que 50 µg kg-1 de AFB1 foi mitigado por PO). Ao final dos 30 dias de experimentos, os parâmetros zootécnicos avaliados não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos (p > 0,05). AFB1 aumentou os índices hepatossomáticos e viscerossomáticos no grupo de peixes do tratamento Contaminado. AFB1 não foi detectada na água de cultivo durante todo o período experimental, sendo o acúmulo da micotoxina ocorrendo apenas nos tecidos de peixes do tratamento Contaminado com concentrações de 1 e 0,4 µg kg-1 no fígado e músculo, respectivamente. A estimativa de ingestão diária para humanos apresentou ordem decrescente nos países desenvolvidos, subdesenvolvidos e emergentes, sendo as crianças o grupo exposto a concentrações mais elevadas de AFB1. A PO é eficiente para o controle e prevenção da bioacumulação de AFB1 na cadeia produtiva do pescado. Os resultados deste estudo demonstram a necessidade de legislações específica para AFB1 através na produção aquícola e em produtos destinados ao consumo humano (e.g., filés, postas e embutidos).

Palavras-chave: PisciculturaRaçãoPeixesMicotoxinasPeroxidaseBiodisponibilidadeBioacessibilidadeAflatoxina B1Mitigação