Tratamento de efluentes cervejeiro e lácteo sintético por biossurfactante produzido a partir de água residual da indústria cervejeira
Autor: Tatiana da Silva Sant'ana (Currículo Lattes)
Resumo
As indústrias de produção de cerveja e laticínios geram grande quantidade de efluentes ricos em material orgânico e inorgânico, sendo comum a utilização de sistemas complexos e de alto custo para seu tratamento. Assim, estudam-se novas alternativas capazes de garantir o crescimento sustentável industrial através de soluções econômicas. Neste contexto, os biossurfactantes se destacam devido sua capacidade de degradação e remoção de contaminantes do ambiente. Visando a ampliação do seu uso, uma série de resíduos de baixo valor comercial, ricos em lipídios, carboidratos e/ou proteínas, tem sido explorados como fontes nutricionais alternativas, minimizando seu custo de produção. Com isto, o objetivo deste estudo foi a avaliação do potencial de tratamento de efluente da indústria cervejeira (EIC) e efluente sintético de laticínios (ESL), por meio de biossurfactante. Para tanto, foram realizados testes para seleção de matéria-prima, utilizando-se diferentes fontes de carbono como substrato na produção do biossurfactante, sendo eles: águas residuais da indústria cervejeira, água residual do cozimento de arroz, bagaço de azeitona, resíduos de pescado e melaço. Os biossurfactantes foram obtidos por cultivo submerso a 30 °C por 48 h utilizando a bactéria Corynebacterium aquaticum em meio composto pela fonte de carbono e meio mineral. Após 48 h de cultivo, o meio contendo 10 % de água residual cervejeira atingiu os melhores valores de tensão superficial (35,1 ± 0,2 mN/m) e atividade emulsificante (40,9 ± 0,5 %), mostrando-se estável em condições extremas de temperatura (- 20 a 121 °C), concentrações de sal (1 a 10 %) e pH (4 a 10). Assim, o meio foi então selecionado para o estudo da aplicação em efluentes em tratamento biológico aerado seguido de 24 h de decantação. A fins de comparação, foram realizados 6 tratamentos distintos, em duplicata: tratamento controle com o efluente aerado, tratamentos com adição do meio contendo biossurfactante em concentrações de 1 e 0,5 DMC (diluição micelar crítica), tratamentos com adição de surfactante dodecil sulfato de sódio em concentrações de 1 e 0,5 CMC (concentração micelar crítica) e tratamento com adição da bactéria Corynebacterium aquaticum. Nos efluentes, foram avaliados os teores de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO) e sólidos totais (ST), nos dias 0, 5 e 10 de tratamento. Para ESL os resultados não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos com adição de biossurfactante e o tratamento controle. Já em EIC as maiores reduções foram observadas em concentrações de 0,5 DMC do biossurfactante, com melhoria da eficiência do sistema em até 55,9 % para DBO, 23,8 % para DQO e 50,6 % para ST, quando comparados ao tratamento controle. Assim, o biossurfactante produzido a partir de 10 % de ARIC apresenta potencial uso como acelerador no processo de tratamento EIC, sem necessidade de purificação e esterilização do biocomposto.